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terça-feira, 18 de outubro de 2011

NO FUNDO DA GELADEIRA

             

   Quantos de nós já tiveram uma parte da casa, quando crianças, que nos desse medo? Para o jovem Franz, não era um cômodo, nem um quadro, nem uma estátua velha de gárgula adquirida pelos seus pais quando passaram um período em Paris. Nem das sombras curvas e de formatos ligeiramente humanos ou monstruosos de acordo com os ventos nos galhos tortuosos das árvores, que cercavam a casa de madeira escurecida. Não era dos espaços vazios entre as portas, nem das armaduras que muitas das vezes pareciam lhe encarar, mesmo sem olhos a mostras. Não era das cortinas e dos rangidos que a casa fazia a noite e no frio. Nada destas coisas abalava tanto o pequeno Franz quanto um objeto muito simples, que ficava na cozinha. A velha e meio redonda geladeira.
                Franz, tinha um pavor daquela geladeira. Para beber água, ficava com a pia mesmo. E os sucos, os alimentos gelados nem fazia questão, só para não ter que ficar a sós com ela, a temida geladeira de cor azul metálico de arranhões na porta pouco maltratada.
                O medo de Franz, para muitos era doença e ele sabia exatamente como lhe tratariam se compartilhasse dele com alguém. Por isso, ficava só entre ele e a geladeira. Todo o pavor que tinha pelo simples objeto havia começado há poucos meses, quando ele, somente ele, jurava que ela havia engolido seu cachorro de estimação. O Pépe era arisco, mesmo pelo seu tamanho nada amedrontador de um basset. E Franz, sabia muito bem que ele não tinha fugido ou sido levado, “foi a geladeira”. Ele afirmava pra si. Se pudesse contar para alguém, Franz descreveria que numa manhã de domingo, quando estava indo para a cozinha, o habitat de seu pavor, ele ouviu um assobio, destes que se chamam cachorros bem amigavelmente, saindo de dentro da geladeira. E a sua porta estava aberta. O pequeno e comprido Pépe foi na sua direção. Quando chegou bem perto, só se pôde ouvir um gemido. Nada mais depois.
                Franz naquele minuto percebeu a porta se fechar rapidamente, como quem a bate com raiva e depois disso correu para a sala gritando pelos seus pais. Na hora, é claro, eles não acreditaram e se quer quiseram ouvir o jovem Franz. Mas ele sabia o que tinha acontecido, ou seus olhos azuis e novos estavam com problemas... juntamente seus ouvidos...

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