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terça-feira, 25 de outubro de 2011

NO FUNDO DA GELADEIRA II

O jovem Franz, com todo o tempo de criança que tinha buscava de uma maneira desesperada um jeito eficaz de se ver livre do velho objeto. Seus pais poderiam comprar uma geladeira melhor, mas como aquela era presente, tinham até mesmo ciúmes do objeto. Franz sempre ficava as espreitas, observando toda vez que alguém da casa ia até ela. A emprega, uma senhora austríaca dos arredores das florestas negras sempre precisava buscar algo na geladeira, coisas simples. E Franz, corria toda vez que podia para observar. Ele tinha certeza que um dia, viria a mesma cena que ficou na sua cabeça, a do Pépe sendo engolido por ela. Tempos difíceis.
               
Seus pais acreditavam que o pós guerra havia afetado o jovem, e conversavam sobre isso toda vez que podiam. Uma clínica, uma escola para meninos, uma viagem para os países que não tivessem sido destruídos pelo fim do III Reich. Mas com o passar dos tempos, o país voltando a sua economia modesta, o pequeno Franz pareceu se ver livre desta mania e implicância com a geladeira antiga. E até seus pais haviam comprado outra e posta junta dela. Assim, Franz com seus quinze anos de idade, garoto de pele rosada e pintinhas amarelas ficava mais a vontade.
                O pequeno Franz agora era o jovem Franz. Estudado, culto, inteligente e com grande ambição. O tempo havia passado e as histórias da geladeira se juntaram com as demais sobre contos de fadas. Ele ria, quando seus pais contavam para os amigos, as meninas interessadas por ele. O Pépe havia se perdido. E a empregada austríaca nunca havia sido engolida. Envelheceu e estava morando longe de lá. Franz ficou até mesmo a visitando durante um tempo para ter certeza disso. Mas ela esteve sempre lá.
                Até entrar na cozinha sozinho Franz já fazia. Claro, não abria a antiga geladeira, tendo uma maior e moderna a disposição. Era isso que sempre dizia pra si mesmo. No fundo, ele sabia o motivo real.
                Foi num dia de verão, daqueles verões frios como só a Europa sabe produzir que Franz voltava da escola, seu ultimo dia de aula e pôde ver algo tão aterrorizante quanto o seu pequeno Pépe ser engolido. O silêncio reinava em sua casa, como de costume, com apenas o som de vozes conhecidas vindo da cozinha. Ele sabia de quem eram as vozes de mulher e homem, seus pais. Imediatamente correu para lá. Chegando, os viu ajoelhados frente a geladeira que estava de portas abertas.
                — Não se aproxime Franz! — Gritou seu pai levantando-se.
                Franz ainda calado ficou imóvel no corredor frente a cozinha.
                — Não é o nosso filho! É mais uma ilusão! Não dê ouvidos para ele Anette! Não é ele!
Franz observou que ambos choravam, mas não entendia o que estava acontecendo. Seu pai pegou a velha arma da família que estava no chão e catou as balas ainda não chão.
                — Mãe! O que o papai está fazendo?
                — Devolva nosso filho! O que você quer com ele? Devolva nosso filho! — sua mãe ainda de joelhos no chão chorava e suplicava para o jovem Franz que nada entendia. Apenas observava espantado com o que estava acontecendo.

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