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sábado, 5 de março de 2011

MEU NOME É LUCAS. PARTE II

Me sentei em um bar pequeno e escuro em um dos corredores onde as carnes se mostravam prontas para serem preparadas. Mulheres de vários tamanhos, cores e formas. As pessoas mais variadas vão para aquele lugar. Gringos com meninas novas, empresários, garotos novos em suas estréias e os seus freqüentadores permanentes. Eu já havia estudado o lugar, calculado o tempo que levava para esvaziar o máximo e para caminhar até o carro. Não o dele, porque bandido, santo ou não, gosta de aparecer. Ele deixava o carro quase fechando a rua, então seria no meu mesmo. O porta-malas estava a sua espera. Eu, com o meu pequeno caderno de anotações e uma garrafa de cerveja aberta em minha mesa. Claro, somente as carnes a minha volta bebiam. Não podia chamar a atenção para mim, já que não voltaria durante muito tempo, assim como o Cabeça. Sabe aquela sensação sufocante de êxtase e ansiedade? Eu as tenho, mas aprendi a usar ao meu favor. Meu coração batia cada vez mais forte quando ele se levantava durante a noite. Não sem compasso, apenas forte e lento. Ele também aprendeu certos truques.
Eu iria ter somente uma chance naquela noite e não poderia perder tempo quando isto acontecesse. Os quartinhos das putas são um do lado do outro, num corredor minúsculo. Pra minha sorte, as paredes não são de cimento, era só entrar em um vazio, sair e chegar até o dele. Teria alguns problemas pela frente. Primeiro, estes lugares são protegidos por homens armados, policiais, bandidos, seja lá o que for, mas daí vem o lado bom. Quem imaginaria isso, num lugar de policiais? Eu. Às 3 horas da manhã ele já estava pronto para subir com uma mulher. Era a minha hora, e na minha sexta cerveja, que estava na mesa, coloquei em um dos copos um pouco de uma mistura particular, e dei a uma das mulheres. Era o sinal que eu havia a escolhido. Ele subiu. Eu, logo atrás sendo levado carinhosamente por uma mulher. Paguei no balcão seu valor, e o cafetão me deixou entrar. Ela esperava muito naquela madrugada, assim como eu, mas não era a mesma coisa. Ela talvez quisesse um pouco de prazer pra variar, mas eu estava trabalhando. Entramos no quarto, pude ver de relance o Cabeça entrar no do lado. Fui beijado, uma coisa rara, já que isso é proibido no código das putas, mas eu não neguei. O doce gosto do álcool em sua saliva era perturbador, mas fingi interagir. A coloquei na cama fina de colchão rasgado. Ela se permitiu deitar. Olhei bem seu rosto, e naquele momento pareceu que estava fitado em seus olhos castanhos, e nos fios pintados de negros do seu cabelo caído por sobre a testa, mas não estava. Estava me aproximando ainda mais dela, a parede, para ouvir os movimentos do quarto ao lado. Ela não percebeu, e nem poderia, estava agora tão distraída com seu próprio corpo que quase havia esquecido da pequena mistura em sua bebida.
— Eu vou descer, amor! Me espere um pouco?
Com uma voz carregada ela disse e logo em seguida saiu correndo pela porta tapando a boca. Meu prazer estava chegando. Me levantei. Com metade do rosto pela porta observei um dos lados do corredor estreito. Saí e fui até a porta ao lado. Com a mão fechada, e concentrado no que fazia bati a porta forte. Senti que pararam os movimentos no interior, então disse com uma voz pesada:
— Vem aqui embaixo! Agora!
O som repetitivo de antes findara. Poucos segundos depois saiu a mulher de aparência melhor que a que estava comigo. Ele tinha bom gosto. Mesmo sendo um pouco mais velha, ela era muito atraente. Ela desapareceu no fim do corredor em uma escadinha estreita. Eu agi.
A porta não ficou fechada, o que facilitava muito as coisas, pois o negócio de arrombar portas sem estragar a fechadura ou sem quebrá-la, somente nos filmes. Eu a empurrei de leve. Por baixo da luz fraca que escondia o rosto dele e adentrei. Ele tentou um movimento brusco como quem leva um susto enquanto dorme, mas meu braço foi mais rápido. O acertei na cabeça com um pedaço de madeira que levo comigo nestes casos. Sem barulho muito alto de arma de fogo, sem gritaria, apenas o leve som abafado de carne e osso sendo espremidos. Bastou apenas duas, ele já havia ficado desorientado com a primeira. Estava feito uma parte do trabalho, agora deveria tirá-lo de lá. Ainda estava de roupa, uma calça jeans boa, da marca e uma camisa social aberta com botões. Aquele corpo imóvel em colchão fino e sujo com panos encardidos. Que lugar nojento. Mas o que mais me encanta nestes lugares são as facilidades de se sair deles. Não poderia voltar com um homem desacordado pela porta da frente. Ele havia chegado só, e eu não poderia ser reconhecido. Não tenho planos de voltar aqui, mas o trabalho pode me chamar.

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